Por Fabio Sobral
Na quinta-feira (22), começou uma conferência do clima organizada pelo presidente americano Joe Biden. É uma ruptura profunda com a política desenvolvida pelo seu antecessor, Donald Trump.
O governo Biden irá buscar a diferenciação em vários campos. É fundamental para seu governo. Sua votação foi um cheque em branco de grande parte do eleitorado democrata, que é cada vez mais desconfiado das promessas dos seus candidatos.
O novo presidente tem dois anos para provar que é diferente. Por que dois anos? É o tempo para eleições do Congresso, chamadas “Midterm Elections”. Caso haja decepção, a derrota eleitoral será fragorosa. Os republicanos teriam maioria e o os dois anos restantes do governo Biden seriam de um organismo moribundo. Eis a causa da pressa.
Um dos temas mais caros ao seu eleitorado é o das mudanças climáticas. Biden exigirá dos países do seu bloco obediência estrita às reduções das emissões de carbono.

Além do calendário eleitoral americano, há uma motivação econômica profunda. Segundo o jornal New York Times, baseado em um relatório da seguradora Swiss Re, se a temperatura se elevar 1,5 °C acima das temperaturas da era pré-industrial haverá perdas de US$ 23 trilhões em desastres ambientais e pandemias.
A própria cadeia energética e de transportes precisará mudar. Biden enxerga aí a possibilidade de remodelar o setor industrial americano, tornando-o capaz de concorrer com as tecnologias chinesas e alemãs, já bastantes avançadas no mercado.
É uma guinada gigantesca de uma economia que dominou o século XX e o começo do atual com combustíveis fósseis e automóveis. Biden precisa reorganizar a economia americana ou será superada de forma inexorável pela China.
Eis a causa profunda da mudança de postura do governo Bolsonaro em relação ao tema ambiental, às mudanças climáticas e ao desmatamento da Amazônia. Foi compelido a mudar. E não tem opções. Precisa obedecer. É semelhante ao final dos anos 1970, quando o governo Jimmy Carter ordenou ao ditador Geisel que parasse torturas e assassinatos.
Bolsonaro sonha com uma ditadura. Parece que a copiará até no seu rastejar. Ouça e obedeça. Não há saída!
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Fábio Sobral é membro do Conselho editorial de A Comuna e professor de Economia Ecológica (UFC)
Originalmente em Diário do Nordeste
